sábado, 27 de janeiro de 2007

Corrida à Ota acaba em marasmo











Corrida à Ota acaba em marasmo
nantónio Pires Vicente
nhelena santareno


negócio. Anúncio da obra levou à compra desenfreada dos terrenos em toda a zona envolvente, a preços exorbitantes, por grupos económicos que não os venderam e agora os têm para revenda
Com o anúncio de que o novo aeroporto internacional de Lisboa seria construído na Ota, os preços dos terrenos na zona dispararam em flecha, "triplicando ou quadruplicando", segundo os autarcas, ou "até muito mais do que isso", referem os promotores imobiliários. Passados estes anos, com as indecisões sobre o projecto, os preços estagnaram e em muitos casos estão mesmo a descer. Muitos duvidam que o projecto vá avante. "Quando o aeroporto da Ota foi decidido, houve uma verdadeira corrida. Terrenos que valiam dois contos foram vendidos por sete, mas tudo está a voltar ao normal, porque as pessoas já não acreditam", diz ao DN Carlos Coração, da Era Imobiliária.O arquitecto responsável pela imobiliária dá o exemplo de terrenos agrícolas "que valiam 800 escudos o metro quadrado e foram vendidos a três, seis e sete contos o metro quadrado. Houve agricultores que ficaram ricos, mas depois com os adiamentos os preços estagnaram ou desceram", sublinha. "De tal forma que quando este Governo voltou a anunciar o aeroporto na Ota ninguém se mexeu. Já ninguém acredita. Houve grandes grupos económicos que compraram terrenos caríssimos e agora não conseguem vendê-los, muito menos avançar com projectos. Estou convencido de que só haverá nova corrida no dia em que for lançado o concurso, algo de concreto, mas a verdade é que neste momento já só há praticamente terrenos para revenda", acrescenta Carlos Coração.Clara Margarido, da Remax do Carregado, partilha desta opinião. "Houve subidas exorbitantes quando o projecto foi conhecido, mas depois os preços estagnaram. Diria mesmo que a tendência é para baixarem".Mas a verdade é que a construção do aeroporto na zona da Ota, a cerca de 45 quilómetros da capital, revolucionará toda a região. Nos últimos tempos, "devido às indecisões governamentais sobre a infra-estrutura, notou-se um afrouxamento do interesse de empresas que querem instalar-se na região, procurando beneficiar da proximidade do futuro aeroporto internacional da Ota, mas continua a haver procura de terrenos", afirmou ao DN o presidente da Câmara de Alenquer, Álvaro Pedro. Os espaços disponíveis é que já não abundam, particularmente no eixo situado entre o nó do Carregado e a sede de concelho, onde o preço do metro quadrado pode atingir os 250 euros, segundo o autarca. Embora as áreas disponíveis com alguma dimensão na zona industrial do Carregado - a mais importante do concelho - já sejam escassas, há neste momento dois grandes espaços junto ao nó da Auto-Estrada do Norte (A1) que estão à venda. "Trata-se de terrenos com construção já autorizada, que não estão abrangidos pelas medidas restritivas em vigor na área de reserva do aeroporto da Ota", esclarece Álvaro Pedro.Já a norte da Ota, "a procura é particularmente intensa ao nível logístico e dos chamados serviços de proximidade", para os quais "a localização do novo aeroporto é, certamente, de vital importância", adianta o presidente do município alenquerense. Como a zona entre o Carregado e Alenquer já está demasiado saturada, "estamos a assistir ao crescente interesse de empresas pela área da Ota", confirma o presidente da respectiva junta de freguesia, Rui Branco.Ao nível das empresas que se instalaram na região depois do anúncio de que o novo aeroporto iria para a Ota, poucas são as que assumem que a projectada instalação foi factor determinante para a consolidação local dos respectivo projectos. De qualquer modo, os promotores do Campera Outlet Shopping (Mercasa/Grupo Espírito Santo), instalado há quase cinco anos nos arredores do Carregado, admitem que a proximidade do futuro aeroporto poderá ser um factor determinante para o retorno do investimento de 90 milhões de euros num prazo relativamente mais curto.Também João Cyrillo Machado - promotor da Quinta da Abrigada, que envolve um ambicioso projecto turístico e imobiliário estimado em 80 milhões de euros, numa área de 223 hectares na orla da serra de Montejunto - admite que "a nível turístico a vertente do golfe será extremamente atractiva no contexto internacional, quando tivermos o novo aeroporto a menos de sete quilómetros". O Grupo Civipartes, especializado na comercialização de peças e componentes para veículos pesados, terá sido a última grande empresa a instalar-se estrategicamente na zona do Carregado. Expectantes sobre o avanço do aeroporto da Ota estão os promotores imobiliários, particularmente os construtores com obras suspensas por via das medidas preventivas para salvaguarda de espaços eventualmente necessários para a construção daquela infra-estrutura e dos seus acessos, que, segundo o autarca de Alenquer, totalizam cerca de quatro mil fogos [ver peça sobre medidas preventivas]. Só no caso das Construções ALM (Grupo Edifoz) está em causa um investimento de 15 milhões de euros, que aguarda há mais de quatro anos pela definição dos acessos, que dará luz verde a uma urbanização de 800 fogos nas imediações de Alenquer. No âmbito da revisão do Plano Director Municipal que espera ter concluída até ao final de 2006, a Câmara de Alenquer já assumiu que pretende alargar as áreas industriais para ter capacidade de resposta à eventual procura de espaços pelo sector empresarial.As repercussões do novo aeroporto estão igualmente a ser equacionadas no âmbito da revisão do PDM em Vila Franca de Xira, onde a procura de terrenos para uso industrial também é grande. Por isso, a câmara está apostada na ampliação da zona industrial e de multiusos de Castanheira do Ribatejo, mais próxima do futuro aeroporto internacional.De acordo com o Plano Estratégico do Concelho (PEC) elaborado pela autarquia, o desenvolvimento de Castanheira do Ribatejo deverá passar pelo sector terciário e pela logística qualificada, de modo a tirar dividendos do novo aeroporto, que, segundo a mais recente projecção do Governo, deverá estar concluído em 2015. O vereador do Urbanismo, Ramiro Matos, sublinha que terão de ser criadas condições físicas para instalação de áreas de uso industrial, pelo que "teremos de encontrar respostas para a pressão que vai surgir de um conjunto de unidades de grande e média dimensão, na área da logística, devido à instalação do novo aeroporto".impactes. O projecto não está ainda devidamente ponderado em termos de impactes económicos na região. Mas o resumo não técnico do Estudo Preliminar de Impacte Ambiental (EPIA) diz que "haverá um fortemente impacte negativo sobre a agricultura, via ocupação de solos pelas actividades aeroportuárias, valorização da terra e aumento dos custos da mão-de-obra não qualificada". Contudo, diz o estudo, "é de considerar a possibilidade de de-senvolvimento de actividades agrícolas de alto valor acrescentado viradas para a exportação, numa segunda orla em torno do aeroporto. A procura de terrenos no local para as mais variadas utilizações alterará radicalmente os padrões de utilização do solo e o rendimento dos seus proprietários", sendo que "a pressão sobre os preços será muito forte nas zonas com muito boas acessibilidades", advertem os autores do EPIA






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