Numa tarde de inverno, agreste e fria,
Um sem abrigo veio a tiritar,
Pedir uma esmolinha pra matar
A dolorosa fome que sentia.
Levei-o à estalagem da alegria,
Sentei-me mesmo em frente a observar
Como sorvia, à pressa, o tal jantar,
Como se fosso o seu último dia.
Senti naquele olhar, ainda menino,
Um brilho irreal, talvez divino,
E que me irradiou de estranha luz.
E notei, num profundo sentimento,
Que naquele santíssimo momento,
Matei a fome ao próprio Jesus!
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