sexta-feira, 30 de abril de 2010

CAMPO DE DELITOS

Amarga recordação

Desespero que se estende

Nunca se finda

Dói ainda a ferida

A marca que carrega

O assombro de um campo imenso.

Queria poder dormir e esquecer

Para não ter que morrer um tanto por dia

Diante das atrocidades que viveu.

Vagões carregados de fedor

Amores separados brutalmente

Braços vazios pra sempre.

Corpos oferecidos por um naco de comida

Vidas contra vidas

Numa lei de sobrevivência.

Uma raça enlouquecida

Querendo dizimar outra tão desprotegida

Fruto de uma mente hedionda

Liderando uma carnificina desmedida.

Fornos carregados de uma fumaça de carne viva

Pavor alastrado pelos campos

Tingindo de vermelho

Deixando a fome ficar sedenta.

E tudo se repete de novo

Mil vezes em sua mente

Num pesadelo constante.

Vive só e em sobressalto

Num pavor que lhe acompanhará por toda vida.

Homem sem identidade

Que cansou de perder

E morrer tantas vezes

Todas...

Que lhe arrancaram abruptamente dos seus braços

Todos aqueles que tanto amava

Até não sobrar mais nada

Até secar todas as lágrimas

E a garganta secar pelos gritos rasgados.

Nunca será mais o mesmo

Não tem só o corpo marcado

A alma também está esfacelada.

Vegeta agora pelos dias

Esperando o dia de ser levado

De encontro aqueles seres amados

Aqueles...

Que no campo maldito foram sepultados.

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